Do Desespero à Luz: A Jornada de um jovem com Dom Bosco

 

Introdução

Na periferia de uma cidade grande, um jovem chamado Matheus se vê em meio a um turbilhão de emoções. Criado em uma família marcada por brigas e ausências, ele sente que o mundo lhe virou as costas. A raiva é sua companheira constante, e a sensação de abandono o empurra para escolhas perigosas. Perdido e sem esperança, Matheus começa a se envolver com drogas, convencido de que esse é o único caminho para silenciar sua dor.

Mas no auge de seu desespero, algo inesperado acontece. Em uma noite nebulosa, enquanto Matheus está sentado em um banco de praça, ele é abordado por um homem misterioso, que se apresenta como João Bosco. Vestido com simplicidade, mas irradiando bondade e sabedoria, o homem se senta ao lado do jovem. O que segue é uma conversa intensa, cheia de humor, inteligência e compaixão, na qual João Bosco tenta tocar o coração ferido de Matheus, mostrando-lhe que sempre há um caminho para a luz e para a vida verdadeira.

Sumário

  1. O Encontro Inesperado
    Matheus, cheio de raiva e perdido em seus pensamentos, é surpreendido por João Bosco, que se apresenta com um ar amigável e curioso.

  2. A Raiva em Palavras
    Matheus desabafa sua frustração com a vida, a família e o mundo, revelando o peso que carrega em seu coração.

  3. O Humor de João Bosco
    Com um toque de inteligência e bom humor, João Bosco começa a desconstruir as barreiras do jovem, arrancando sorrisos e abrindo brechas para uma conversa mais profunda.

  4. "Não Tem Jeito?"
    João Bosco enfrenta o pessimismo de Matheus e o desafia a considerar que a vida pode ter sentido, mesmo nas piores circunstâncias.

  5. Histórias que Inspiram
    João Bosco compartilha histórias de jovens que superaram dificuldades, mostrando que Deus nunca abandona Seus filhos, mesmo nos momentos mais escuros.

  6. O Apelo à Razão e ao Coração
    Em uma conversa franca, João Bosco apresenta o amor de Deus e o valor da Eucaristia, da Confissão e da amizade verdadeira, tocando o coração de Matheus.

  7. A Decisão Difícil
    Matheus luta contra seu orgulho e a descrença, mas começa a ceder aos apelos de João Bosco, reconhecendo que pode haver esperança.

  8. Uma Nova Jornada
    O jovem, agora emocionado e mais calmo, aceita a ajuda de João Bosco e dá os primeiros passos rumo a uma vida nova, cheia de sentido e propósito.

  9. Epílogo: A Luz no Caminho
    Anos depois, Matheus reflete sobre o encontro que mudou sua vida e como João Bosco se tornou um verdadeiro amigo e guia em sua jornada espiritual.

Se quiser, posso começar a desenvolver os capítulos!



Capítulo 1: O Encontro Inesperado

A noite estava pesada. As luzes da cidade criavam sombras dançantes na praça quase deserta, onde Matheus se sentava em um banco de concreto. Seus fones de ouvido estavam pendurados no pescoço, desligados. Ele não queria ouvir nada, mas também não queria parecer vulnerável. Tinha os olhos fixos no chão, as mãos fechadas em punhos. Estava com raiva, como sempre, mas agora era diferente: a raiva parecia maior que ele.

"Por que justo eu? Por que essa droga de vida?" murmurava para si mesmo, como se as pedras da calçada pudessem responder. Sentia-se esmagado por perguntas que ninguém parecia disposto a responder. A casa era um campo de batalha, e ele, um soldado sem armas. Amigos? Só aqueles que pareciam se importar quando havia algo a ganhar. E agora, o alívio falso das drogas começava a parecer sua única saída.

Foi então que um som suave o tirou de seus pensamentos. Era o barulho de passos, calmos, medidos, como se alguém andasse sem pressa, mas com propósito. Matheus ergueu os olhos e viu um homem de aparência incomum. Vestia uma batina preta, que parecia destoar completamente daquele lugar. Tinha um sorriso leve, tranquilo, mas um olhar profundo, como se pudesse enxergar além da superfície.

— Noite difícil, hein? — disse o homem, sentando-se ao lado de Matheus sem pedir permissão, como um velho amigo que se junta à conversa.

— Quem é você? — retrucou Matheus, com um tom defensivo e desconfiado. — Tá perdido? Aqui não é lugar pra padres.

O homem riu, mas de um jeito diferente. Não era um riso de zombaria, mas algo quase paternal.

— Eu? Perdido? Quem sabe... às vezes acho que Deus me manda justamente para os lugares mais improváveis. Me chamo João Bosco, mas pode me chamar de Dom Bosco, se quiser. E você?

Matheus franziu a testa. Algo naquele homem o deixava desconfortável, mas ao mesmo tempo curioso.

— Matheus... Não que isso importe.

João Bosco inclinou a cabeça, fingindo pensar.

— Importa, sim. Seu nome é bonito. Sabe o que significa?

— Sei lá. Deve ser alguma coisa sem graça.

— Significa "dom de Deus". E, pelo que estou vendo, você não acredita muito nisso, não é?

Matheus bufou, cruzando os braços.

— Deus? Se Ele existe, deve estar se divertindo vendo minha vida virar um lixo.

João Bosco ficou em silêncio por um momento, apenas observando o jovem. Depois, falou com um tom calmo e sereno:

— Sabe, Matheus, você me lembra muitos jovens que conheci. Cheios de perguntas, de dor, de raiva. E, acredite ou não, foi essa raiva que me trouxe até você hoje.

— Como assim? — perguntou Matheus, intrigado, embora tentasse disfarçar o interesse.

— Bom, eu gosto de pensar que Deus tem um jeito engraçado de fazer as coisas. Quando Ele vê alguém sofrendo, Ele manda um teimoso como eu para dar uma mão. Então, aqui estou eu.

Matheus balançou a cabeça, soltando uma risada sarcástica.

— Tá perdendo tempo, "Dom Bosco". Ninguém pode fazer nada por mim.

João Bosco sorriu de novo, com a paciência de quem já ouviu isso muitas vezes antes.

— Pode até ser que eu não possa, Matheus. Mas você pode. E isso é o que vamos descobrir juntos, se você me deixar ficar aqui mais um pouquinho.

O jovem olhou para João Bosco, ainda desconfiado, mas algo na tranquilidade daquele homem o impediu de mandá-lo embora. Talvez fosse o cansaço. Talvez fosse curiosidade. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ele resolveu escutar.

E assim, a conversa começou.



Capítulo 2: A Raiva em Palavras

O silêncio que se formou depois das primeiras palavras de João Bosco parecia denso, quase palpável. Matheus olhava para o chão, tentando ignorar a presença daquele homem que parecia tão fora de lugar. Mas, como uma represa prestes a romper, ele sentia que não conseguiria segurar aquilo que estava dentro de si por muito mais tempo.

— Você não sabe de nada, cara. Não sabe o que é ter uma vida como a minha — começou Matheus, com a voz baixa, mas carregada de amargura. — Todo mundo diz que "vai dar certo", que "tem jeito". Só conversa fiada. No final, ninguém faz nada.

João Bosco inclinou-se levemente para frente, em silêncio, dando espaço para Matheus continuar.

— Minha casa é uma bagunça, sabia? — disse Matheus, agora olhando diretamente para João Bosco, os olhos brilhando de raiva. — Meu pai só sabe gritar ou sumir. Minha mãe... Bem, ela tenta, mas parece que desistiu faz tempo. Só vejo tristeza no rosto dela. E eu? Eu tô ali no meio disso tudo, sem saber o que fazer. Sabe o que é ser tratado como peso?

João Bosco balançou a cabeça lentamente, sem interromper.

— E na escola, então? — continuou Matheus, gesticulando com as mãos como se quisesse jogar toda a sua dor para fora. — Ninguém liga. Os professores falam como se todo mundo tivesse uma família perfeita e uma vida tranquila. Mas e quando você sai de lá e tem que voltar pra um inferno? E quando o único lugar onde você sente que é "alguém" é na rua, com gente que nem liga pra você de verdade?

Ele respirou fundo, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair, mas falhou.

— Aí você descobre que tem uma coisa que faz a dor sumir, pelo menos por um tempo — disse ele, a voz trêmula. — As drogas. Não queria começar, sabe? Mas no começo parece fácil... parece que tudo vai embora por alguns minutos. Só que, depois, volta tudo pior. E aí, você já era. Tá preso.

João Bosco continuava ouvindo atentamente, com o rosto calmo, mas os olhos cheios de compaixão.

— E o pior de tudo... — Matheus fez uma pausa, como se fosse difícil dizer aquilo em voz alta. — É que ninguém parece perceber. Ninguém pergunta se eu tô bem. É como se eu fosse invisível. Quer saber a verdade? Eu acho que nasci pra dar errado.

Ele se recostou no banco, exausto de tanto falar, como se cada palavra tivesse levado um pedaço de sua força. João Bosco, ainda quieto, esperou por um momento antes de falar.

— Matheus, obrigado por me dizer tudo isso — disse ele, com sinceridade. — Eu sei que não foi fácil.

— Tá, e agora? Vai me dizer pra "rezar" que tudo melhora? — retrucou Matheus com sarcasmo, cruzando os braços.

João Bosco sorriu, mas seu olhar era sério.

— Não, não vou dizer isso. Primeiro, vou dizer que você tem todo o direito de estar bravo. E sabe por quê? Porque você está certo. Sua dor é real, e sua vida não tem sido justa. Mas sabe o que mais eu vejo?

Matheus franziu a testa, intrigado.

— Eu vejo alguém que ainda está aqui. Alguém que, mesmo com tudo isso, ainda tem forças pra lutar, nem que seja contra o mundo inteiro. Isso não é pouca coisa, Matheus. Você tem uma força que talvez nem perceba.

O jovem ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Algo na maneira como João Bosco falava fazia com que ele quisesse ouvir mais, mesmo que parte de si ainda resistisse.

— Mas vou te dizer uma coisa que talvez você ainda não tenha pensado — continuou João Bosco. — Toda essa raiva que você sente... pode ser uma arma ou uma prisão. Você pode usá-la pra destruir a si mesmo, ou pode transformá-la em força pra mudar sua vida. A escolha é sua.

Matheus olhou para ele com ceticismo.

— Fácil falar, né?

João Bosco sorriu de leve.

— Não é fácil. Nunca é. Mas eu estou aqui, e não vou desistir de você.

O silêncio voltou a pairar entre os dois, mas dessa vez, parecia menos pesado. Matheus não sabia ao certo o que pensar, mas algo em seu peito, tão apertado antes, parecia estar começando a ceder.



Capítulo 3: O Humor de João Bosco

Matheus permaneceu em silêncio por alguns minutos, ainda remoendo o peso do desabafo. João Bosco, ao seu lado, observava o jovem com atenção, mas sem pressa. Ele sabia que aquele momento era delicado e precisava de cuidado. Era hora de mudar de estratégia.

— Sabe, Matheus, você tem cara de quem gosta de desafios — começou João Bosco, com um tom descontraído.

— Desafios? — respondeu Matheus, levantando uma sobrancelha. — Acho que minha vida já tem desafio suficiente, valeu.

João Bosco riu, balançando a cabeça.

— Eu não duvido. Mas tem um desafio que acho que você não vai conseguir vencer.

Matheus olhou para ele, desconfiado.

— Tá tirando com a minha cara? Que desafio?

João Bosco inclinou-se um pouco para frente, com um sorriso no rosto.

— Eu duvido que você consiga me contar uma história engraçada sobre sua vida. Aposto que você é do tipo que só vê o lado ruim das coisas.

— História engraçada? Tá louco? — disse Matheus, cruzando os braços. — Minha vida é um desastre, lembra?

— Ah, todo mundo tem pelo menos uma história engraçada — insistiu João Bosco, fingindo um ar de desafio. — Mesmo no meio de um desastre, às vezes acontecem coisas que nos fazem rir. Vai lá, me prova que estou errado.

Matheus hesitou. Parte dele queria continuar sério, mas outra parte, talvez a mais humana, começava a ceder.

— Tá bom, vou contar uma — disse ele, sem conseguir esconder um pequeno sorriso. — Um dia, meu primo tentou me ensinar a andar de bicicleta. Só que ele esqueceu de me avisar como frear. Adivinha o que aconteceu?

João Bosco arregalou os olhos, fingindo surpresa.

— Você virou piloto profissional de motocross?

Matheus riu, pela primeira vez naquela noite.

— Não! Fui direto no muro! E sabe o pior? Meu primo caiu de tanto rir, e ainda tirou foto pra me zoar depois.

João Bosco gargalhou, batendo palmas.

— Agora sim, Matheus! Tá vendo? Até nos tombos tem graça. Aposto que se olhasse pra sua vida com outros olhos, você ia achar mais histórias assim.

— Sei não, Dom Bosco — disse Matheus, ainda sorrindo, mas agora pensativo. — Minha vida parece mais filme de terror do que comédia.

João Bosco inclinou-se para trás no banco, cruzando as mãos atrás da cabeça.

— Filmes de terror às vezes têm finais felizes, sabia? E, além disso, os melhores heróis são os que enfrentam os maiores desafios.

— Herói, eu? — Matheus deu uma risada curta, sem acreditar.

— Claro! — respondeu João Bosco, com entusiasmo. — Olha pra você: já enfrentou tanta coisa e ainda tá aqui. Tá aguentando firme, mesmo que não perceba. Quer saber? Você tem mais coragem do que imagina.

Matheus balançou a cabeça, mas não conseguiu conter um sorriso. Havia algo na maneira como João Bosco falava que fazia tudo parecer... possível.

— Tá, e qual é o seu segredo, hein? Como você consegue ser tão otimista?

João Bosco olhou para o céu, como se procurasse inspiração entre as estrelas.

— Meu segredo? Eu diria que é acreditar que, com Deus, tudo tem jeito. E, claro, rir das situações sempre que possível. Afinal, a vida fica mais leve quando a gente aprende a rir, até mesmo dos tombos de bicicleta.

O jovem soltou uma risada curta, balançando a cabeça.

— Você é meio estranho, sabia?

— Estranho? — João Bosco fingiu indignação. — Sou único, isso sim!

Os dois riram juntos, e naquele momento, uma pequena barreira havia caído. Matheus não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas sentia-se um pouco mais leve. Pela primeira vez em muito tempo, ele se permitiu relaxar, ainda que só um pouco.

E João Bosco sabia que, com aquele pequeno passo, uma nova porta havia se aberto.



Capítulo 4: "Não Tem Jeito?"

A conversa já havia quebrado o gelo. Depois das risadas e do bom humor de João Bosco, Matheus parecia mais à vontade, mas sua postura ainda guardava a dureza de quem já apanhou muito da vida.

— Tá, Dom Bosco. Beleza, você é engraçado e tudo mais, mas... e daí? Você acha mesmo que umas piadas e umas histórias vão mudar alguma coisa na minha vida? Não tem jeito, cara. Eu já aceitei isso.

João Bosco, que observava o céu estrelado, voltou o olhar para Matheus, com uma expressão serena. Ele sabia que aquele era o momento mais difícil: enfrentar o pessimismo que o jovem carregava como um escudo.

— E se eu te dissesse que essa frase, "não tem jeito", é a maior mentira que você já acreditou? — perguntou João Bosco, com o tom sério, mas sem perder a leveza.

— Mentira? — Matheus soltou uma risada cética. — Ah, tá bom. Então me explica, sábio Dom Bosco. Como é que minha vida tem jeito? Meus pais não vão mudar, meu passado não vai desaparecer, e eu tô cada vez mais afundado.

João Bosco inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, e olhou diretamente nos olhos de Matheus.

— Você está certo em uma coisa: não dá pra mudar o passado. Mas quem disse que o passado é quem manda na sua vida?

— Como assim? — retrucou Matheus, confuso.

— O passado é como uma mochila pesada que você carrega. Ele pode te fazer cansar, pode dificultar o caminho, mas ele não é a estrada. Você ainda tem o poder de escolher para onde está indo.

— Escolher? — Matheus deu uma risada amarga. — Que escolha eu tenho? Continuar nessa vida ou acabar pior do que já tô?

João Bosco sorriu levemente, mas havia uma firmeza em sua voz.

— Você tem mais escolhas do que imagina, Matheus. Mas, às vezes, a gente está tão preso no sofrimento que não consegue enxergar. É como estar em um quarto escuro e achar que não existe mais nada além das paredes. Só que, se você acender a luz, percebe que tem portas e janelas.

— Tá bom, mas onde tá essa luz, então? — Matheus perguntou, com um tom de desafio.

João Bosco deu uma pequena risada.

— Ah, meu caro, essa é a parte boa. A luz já está aí, bem perto de você. É Deus. É a esperança que Ele coloca dentro de cada um de nós, mesmo quando parece que tudo está perdido.

— Deus? — Matheus balançou a cabeça, cético. — Já te disse, se Ele existe, deve estar me ignorando.

— E se fosse o contrário? — João Bosco respondeu com um sorriso tranquilo. — E se Ele estivesse justamente tentando te alcançar agora, mas você é quem não quer ouvir?

Matheus ficou em silêncio, olhando para o chão. Aquela ideia parecia estranha, mas, de alguma forma, mexia com ele.

— Olha, Matheus — continuou João Bosco, com a voz cheia de convicção —, eu sei que sua vida não tem sido fácil. Sei que você já passou por coisas que ninguém deveria passar. Mas acreditar que "não tem jeito" é o mesmo que se render antes mesmo de tentar. E você não é do tipo que se rende, ou não estaria aqui, falando comigo.

Matheus levantou a cabeça e olhou para João Bosco, com uma mistura de cansaço e curiosidade.

— E se eu tentar e continuar dando errado?

João Bosco sorriu.

— Então você tenta de novo. E de novo. E de novo. Porque a vida é assim: um monte de tentativas e erros. Mas, com Deus, cada tentativa te deixa mais forte.

— Você faz parecer tão fácil... — disse Matheus, cruzando os braços.

— Não é fácil, Matheus. Eu não estou aqui pra te enganar. Vai ser difícil. Vai ser um dia de cada vez, com quedas e recomeços. Mas a diferença é que você não vai estar sozinho.

— Não sei, Dom Bosco... — Matheus suspirou. — Parece bom demais pra ser verdade.

— Pode parecer, mas é verdade — respondeu João Bosco, sorrindo. — E você não precisa acreditar em mim agora. Só peço que pense nisso. Porque, no fundo, eu sei que você já sabe: sempre tem jeito, Matheus. Sempre.

O silêncio tomou conta do momento, mas dessa vez não era um silêncio pesado. Era como se as palavras de João Bosco começassem a encontrar um espaço dentro do coração do jovem, mesmo que ele ainda não quisesse admitir.

E João Bosco sabia que a semente havia sido plantada.


Capítulo 5: Histórias que Inspiram

O vento frio da noite balançava as árvores na praça, enquanto Matheus e João Bosco permaneciam sentados naquele banco, como duas almas em um mundo à parte. Matheus, embora ainda desconfiado, parecia mais disposto a ouvir. Algo em João Bosco – a calma, o sorriso genuíno, ou talvez a simplicidade com que falava – fazia com que o jovem baixasse suas defesas, ainda que a contragosto.

— Tá bom, Dom Bosco. Você tem um jeito estranho de me fazer escutar — disse Matheus, cruzando os braços. — Mas, sinceramente, você acha mesmo que alguém como eu tem chance?

João Bosco olhou para ele, e seus olhos brilharam com uma mistura de ternura e determinação.

— Matheus, eu não acho. Eu tenho certeza. E não digo isso por acreditar cegamente. Digo porque eu já vi. Conheci muitos jovens como você, e posso te contar histórias que te fariam duvidar da lógica desse mundo.

— Histórias? — Matheus franziu a testa, intrigado. — Que tipo de histórias?

João Bosco se ajeitou no banco, como quem está prestes a narrar algo importante.

— Deixa eu te contar sobre um garoto chamado Miguel. Ele tinha uma vida complicada, bem parecida com a sua. O pai era violento, a mãe estava sempre ocupada tentando manter a casa de pé, e ele se sentia completamente invisível. Um dia, Miguel resolveu que, se o mundo não dava atenção a ele, então ele faria o mundo notar. Começou a andar com uma galera barra pesada, se meteu em brigas, roubos, e, como você pode imaginar, nas drogas.

Matheus assentiu lentamente, sem tirar os olhos de João Bosco.

— E aí? O que aconteceu com ele?

João Bosco sorriu de lado, como quem sabe a resposta, mas quer criar suspense.

— Bom, Miguel chegou no fundo do poço. Foi preso depois de uma confusão, e lá na cela ele achou que sua vida tinha acabado. Mas sabe o que aconteceu? Ele conheceu alguém que, assim como eu, acreditava que "sempre tem jeito". Um padre começou a visitá-lo na prisão e mostrou que Deus ainda estava com ele, mesmo ali, naquele lugar.

Matheus estreitou os olhos, curioso.

— E ele acreditou nisso?

— No começo, não — respondeu João Bosco com um sorriso. — Ele achava que era conversa fiada. Mas aquele padre não desistiu. Com o tempo, Miguel começou a enxergar que sua vida não precisava acabar ali. Quando saiu da prisão, ele decidiu recomeçar. Largou as más companhias, arrumou um trabalho simples e, mais importante, deixou Deus entrar na sua vida. Hoje, Miguel ajuda outros jovens que passaram pelo que ele passou.

Matheus ficou pensativo, absorvendo aquela história.

— Tá, mas isso é só uma história. Nem todo mundo consegue sair dessa.

— Você tem razão — admitiu João Bosco, com sinceridade. — Nem todos conseguem. Mas sabe qual é a diferença? A escolha de tentar. Alguns se agarram a Deus, como Miguel, e encontram forças para continuar. Outros desistem antes de começar.

João Bosco fez uma pausa, depois inclinou-se levemente para Matheus.

— E quer saber mais? Eu conheci um garoto que perdeu tudo: família, amigos, esperança. Ele vivia na rua, comendo o que achava no lixo. Mas um dia, enquanto vagava sem rumo, ele passou por uma igreja e entrou, mais por curiosidade do que por fé. Lá dentro, ele encontrou pessoas que o acolheram, que acreditaram nele, mesmo quando ele não acreditava em si mesmo. Hoje, ele tem uma família, um lar e uma fé inabalável.

Matheus balançou a cabeça, ainda tentando processar aquelas histórias.

— E como essas pessoas conseguiram? Tipo... de verdade?

João Bosco sorriu, com uma expressão de profundo entendimento.

— Matheus, elas conseguiram porque entenderam algo muito importante: Deus não abandona ninguém. Mesmo nos momentos mais escuros, Ele está ali, esperando que a gente peça ajuda. Mas Deus é educado. Ele não força a entrada. A gente precisa abrir a porta.

Matheus olhou para o chão, pensativo.

— E você acha que Deus ainda quer me ajudar? Depois de tudo que eu fiz?

João Bosco colocou uma mão no ombro de Matheus, em um gesto paternal.

— Quer? Ele não só quer, como já está te ajudando. Eu estar aqui hoje, sentado com você, não é coincidência. Deus está falando com você através dessas histórias, das minhas palavras. Ele está dizendo: "Matheus, você é meu filho, e eu nunca vou desistir de você".

O jovem respirou fundo, sentindo uma mistura de emoções que ele não conseguia explicar. Algo dentro dele parecia querer acreditar, mas o peso do passado ainda era forte.

João Bosco percebeu o conflito no olhar de Matheus e concluiu com firmeza:

— Você pode achar que é só mais um garoto perdido no mundo, Matheus, mas para Deus, você é único. E essas histórias que te contei? Um dia, a sua pode ser uma delas.

Matheus permaneceu em silêncio, mas algo havia mudado. Pela primeira vez, ele começava a considerar a possibilidade de que, talvez, realmente tivesse jeito.


Capítulo 6: O Apelo à Razão e ao Coração

O silêncio que se seguiu à última conversa era quase tangível. Matheus olhava para o chão, mexendo nervosamente nos cadarços de seus tênis, enquanto João Bosco permanecia sentado ao seu lado, tranquilo, como quem sabe que o momento certo para falar chegará. O vento frio daquela noite parecia mais ameno, quase acolhedor, à medida que os dois compartilhavam o mesmo espaço de dúvidas e esperanças.

João Bosco foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Matheus, você me disse que acha que Deus não se importa com você, certo?

Matheus deu de ombros, sem olhar para ele.

— É... Parece que, se Ele existe, tá ocupado com outras coisas.

João Bosco riu levemente, mas havia um toque de tristeza em sua voz.

— Eu já ouvi muitos jovens dizerem isso. E, sabe, no fundo, o que todos eles queriam era sentir que são amados.

Matheus levantou o olhar, curioso, mas ainda desconfiado.

— Tá, e aí? O que isso tem a ver comigo?

João Bosco virou-se para ele, com um olhar direto, mas cheio de ternura.

— Tudo, Matheus. Porque a verdade é que você é profundamente amado. Deus te ama mais do que você consegue imaginar. Ele te conhece desde antes de você nascer. Cada parte de você – suas dores, seus medos, suas falhas – Ele conhece tudo. E, mesmo assim, Ele te ama sem condições.

Matheus desviou o olhar, tentando esconder a emoção que começava a borbulhar em seu peito.

— Mas se Ele me ama tanto, por que minha vida é assim? Por que parece que Ele me abandonou?

João Bosco respirou fundo, como quem sabia que essa pergunta chegaria.

— Matheus, Deus nunca te abandonou. Ele sempre esteve com você, até nos piores momentos. Mas o amor d’Ele não é uma mágica que resolve todos os problemas da noite para o dia. Ele te dá liberdade. Liberdade para escolher, para errar, para aprender. E, acima de tudo, Ele te dá a chance de voltar para Ele, sempre que precisar.

— Voltar como? — perguntou Matheus, com uma mistura de ceticismo e curiosidade.

João Bosco sorriu, sabendo que estava chegando ao ponto central.

— Através dos sacramentos, Matheus. Especialmente da Confissão e da Eucaristia.

Matheus o encarou, confuso.

— Confissão? Tá de brincadeira. Como é que falar dos meus problemas pra um padre vai mudar alguma coisa?

João Bosco inclinou-se para frente, com a expressão séria, mas acolhedora.

— Confissão não é só "falar dos seus problemas". É muito mais do que isso. É um encontro com a misericórdia de Deus. Quando você se confessa, você está entregando toda a bagunça da sua vida para Ele, e Ele te devolve paz, força, e um coração renovado. É como se Ele dissesse: "Eu sei que você caiu, mas eu estou aqui para te levantar".

Matheus ficou em silêncio, mas era evidente que algo naquelas palavras o havia tocado.

— E a Eucaristia? — continuou João Bosco. — Ah, Matheus, a Eucaristia é o maior presente que Deus nos deu. É o próprio Jesus, vivo, presente, entregando-se a nós. Quando você recebe a Eucaristia, você não está apenas participando de um ritual. Você está recebendo o amor de Deus em sua forma mais pura.

— E como isso pode me ajudar? — perguntou Matheus, com a voz mais baixa, quase como se estivesse testando aquela ideia.

— A Eucaristia te dá forças, Matheus. Ela é como o pão para quem está caminhando no deserto. Te alimenta, te sustenta, e te lembra que você não está sozinho. Que Deus está contigo, dentro de você.

Matheus esfregou o rosto, como quem tenta organizar os pensamentos.

— Sei lá, Dom Bosco. Isso tudo parece... complicado.

João Bosco deu uma risada leve.

— Eu sei que parece, mas, na verdade, é muito simples. É como uma amizade. Você já teve um amigo de verdade, Matheus?

O jovem hesitou antes de responder.

— Acho que já... Mas faz tempo.

— Então você sabe como é bom ter alguém com quem contar, não sabe? — perguntou João Bosco. — Agora imagine que esse amigo é Deus. Ele nunca te julga, nunca te abandona, nunca te decepciona. Ele está sempre ali, esperando que você confie Nele.

Matheus balançou a cabeça, ainda relutante, mas havia algo diferente em seu olhar. Uma pequena luz começava a brilhar onde antes só havia escuridão.

— Tá, mas por onde eu começo? — perguntou ele, quase como quem se rende.

João Bosco sorriu, satisfeito.

— Você começa reconhecendo que precisa de ajuda. E, depois, dá um passo de cada vez. Confesse-se. Participe da Missa. Fale com Deus como se estivesse falando com um amigo. E, aos poucos, você vai perceber que Ele está lá, guiando cada um dos seus passos.

O silêncio que se seguiu foi profundo, mas não pesado. Era como se Matheus estivesse finalmente permitindo que aquelas palavras penetrassem em seu coração.

— Vou pensar nisso, Dom Bosco — disse ele, baixinho, mas com sinceridade.

João Bosco colocou uma mão no ombro do jovem e sorriu.

— É tudo o que eu peço, Matheus. Pense. E lembre-se: Deus te ama mais do que você pode imaginar. E Ele nunca, nunca vai desistir de você.

Matheus olhou para ele, e, pela primeira vez, seu rosto não carregava apenas dor, mas também um pouco de esperança. Uma semente havia sido plantada, e João Bosco sabia que Deus se encarregaria do resto.




Capítulo 7: A Decisão Difícil

A noite parecia mais longa do que o normal, como se o tempo tivesse desacelerado para acompanhar o turbilhão de pensamentos que dominava Matheus. Ele andava de um lado para o outro na praça, com as mãos nos bolsos, enquanto João Bosco o observava calmamente, sentado no banco. O jovem parecia dividido entre duas forças: o orgulho que insistia em mantê-lo firme no que sempre acreditou, e uma voz nova, mais suave, que dizia que talvez, só talvez, ele não estivesse completamente sozinho.

— Dom Bosco, eu não sei... — disse Matheus, finalmente parando e encarando o homem. — Quer dizer, o que você falou faz sentido, mas, ao mesmo tempo, eu não consigo acreditar que isso é pra mim.

João Bosco inclinou-se levemente para frente, os olhos cheios de compreensão.

— Por quê? O que faz você pensar que não é para você, Matheus?

Matheus suspirou, passando as mãos pelos cabelos em um gesto de frustração.

— Porque... olha pra minha vida! É uma bagunça. Eu fiz tanta coisa errada que nem sei por onde começar. E, sei lá, parece que aceitar tudo isso, pedir ajuda, admitir que eu preciso de Deus... parece que tô me humilhando.

João Bosco soltou uma leve risada, mas não de zombaria, e sim de empatia.

— Ah, Matheus, você acabou de colocar o dedo na ferida: o orgulho. Você acha que pedir ajuda é humilhante, mas, na verdade, é um dos maiores atos de coragem que alguém pode ter.

Matheus franziu o rosto, como quem tenta processar aquela ideia.

— Coragem? Como assim?

— Pense comigo — começou João Bosco, com a voz calma. — É fácil viver do jeito que você vive hoje?

Matheus hesitou, mas acabou balançando a cabeça.

— Não. É horrível.

— Exatamente — continuou João Bosco. — Mas, mesmo assim, você continua nessa vida porque tem medo de mudar. Medo de tentar algo novo e talvez falhar. Só que admitir que você precisa de ajuda, dar o primeiro passo, isso exige uma força incrível. E isso, meu amigo, é coragem.

Matheus abaixou o olhar, sentindo o peso daquelas palavras. Ele sabia que João Bosco tinha razão, mas ainda havia algo dentro dele que resistia.

— E se eu der esse passo e nada mudar? — perguntou ele, a voz carregada de dúvida.

— Ah, Matheus, algo sempre muda quando a gente abre o coração para Deus — respondeu João Bosco, com um sorriso tranquilo. — Mas não vou mentir pra você: pode ser que as coisas não melhorem de uma hora para outra. A vida é um processo. Mas a diferença é que, com Deus, você nunca vai caminhar sozinho.

Matheus respirou fundo, como se estivesse tentando tomar coragem.

— E como eu vou saber que Ele realmente se importa comigo?

João Bosco levantou-se e colocou uma mão no ombro de Matheus.

— Você já sabe, Matheus. No fundo, você sente isso. Ou não estaríamos tendo essa conversa agora. Deus está te chamando, mas Ele respeita o seu tempo. Ele não vai forçar a porta, mas vai esperar pacientemente que você a abra.

Matheus olhou para João Bosco, os olhos brilhando com um misto de emoção e dúvida.

— Eu não sei se consigo.

— Você consegue — respondeu João Bosco com firmeza, mas também com ternura. — Não precisa ser perfeito, Matheus. Não precisa ter todas as respostas agora. Só precisa dar o primeiro passo. O resto, Deus fará por você.

Matheus respirou fundo novamente, olhando para o céu estrelado, como se buscasse uma resposta entre as estrelas. Ele estava cansado – cansado da raiva, do vazio, da solidão. Por um momento, permitiu-se imaginar que talvez houvesse uma saída.

— Tá... E se eu decidir tentar, o que eu faço?

João Bosco sorriu, como quem sabia que aquele momento chegaria.

— Comece conversando com Deus. Não precisa de palavras bonitas ou complicadas. Fale com Ele como está falando comigo agora. Depois, procure se confessar. Lembre-se: a confissão não é sobre julgamento, é sobre perdão. E, acima de tudo, esteja aberto para receber a graça de Deus.

Matheus assentiu lentamente, ainda relutante, mas algo dentro dele parecia estar se soltando.

— Não vai ser fácil, né? — perguntou ele, com um pequeno sorriso.

— Não, Matheus, não vai — respondeu João Bosco, sorrindo de volta. — Mas a vida mais valiosa raramente é fácil. E eu te prometo: vale a pena.

O jovem ficou em silêncio, olhando para o chão, mas dessa vez seu rosto não estava carregado de raiva. Pela primeira vez, ele parecia estar considerando, verdadeiramente, a possibilidade de mudar.

João Bosco sabia que aquela era uma batalha interna que Matheus precisava enfrentar sozinho, mas ele também sabia que Deus já estava trabalhando no coração do jovem.

E, naquele momento, Matheus deu um pequeno passo, quase imperceptível, mas decisivo. Ele começou a acreditar que, talvez, só talvez, ainda houvesse esperança.



Capítulo 8: Uma Nova Jornada

A praça estava quase deserta quando Matheus finalmente quebrou o silêncio. Ele estava sentado no banco ao lado de João Bosco, mas algo em sua postura havia mudado. Os ombros, antes tensos, pareciam mais relaxados, e a expressão de raiva em seu rosto havia dado lugar a algo novo: um misto de emoção e serenidade.

— Dom Bosco... eu acho que quero tentar. — Sua voz saiu hesitante, mas havia uma firmeza escondida ali.

João Bosco sorriu, um sorriso calmo e cheio de esperança.

— Isso é tudo o que Deus precisa, Matheus: um coração disposto a tentar.

Matheus respirou fundo, como quem sente o peso do mundo começar a sair das costas.

— Mas, e agora? O que eu faço? Por onde começo?

João Bosco virou-se para ele, os olhos brilhando de alegria e sabedoria.

— Começamos com um passo de cada vez. Primeiro, eu vou te levar para confessar. Não precisa ter medo, Matheus. A confissão não é sobre condenação, mas sobre liberdade. É como abrir as janelas de um quarto que ficou fechado por muito tempo. O ar fresco vai entrar, e você vai se sentir renovado.

Matheus franziu a testa, ainda relutante, mas menos resistente do que antes.

— Mas... e se o padre me julgar?

João Bosco riu baixinho, com ternura.

— Um bom padre nunca julga, Matheus. Ele está ali como um instrumento de Deus, para te ouvir, te acolher e te ajudar a carregar esse peso. E lembra: quando você se confessa, não é ao padre que você está falando, mas a Deus. Ele já conhece suas falhas, mas quer que você confie Nele o suficiente para entregá-las.

Matheus assentiu, ainda nervoso, mas decidido.

— Tá bom. Eu vou tentar.

João Bosco colocou uma mão no ombro de Matheus, como um pai que encoraja o filho antes de uma grande jornada.

— Esse é o primeiro passo, Matheus. Depois disso, quero que você comece a participar da Missa. É lá que você vai encontrar forças, na Eucaristia. Jesus vai te sustentar em cada momento difícil.

— Parece... meio estranho. — Matheus deu um sorriso pequeno, mas sincero. — Eu nunca achei que fosse acabar falando de Jesus assim, como se Ele fosse... real.

— E Ele é, Matheus. Mais real do que você imagina. — João Bosco sorriu de volta. — E Ele está muito feliz com o que você está fazendo agora. Cada passo que você der em direção a Ele será recompensado com um amor que você nunca experimentou antes.

Matheus olhou para o céu, onde as estrelas brilhavam silenciosamente. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu uma paz estranha, como se, de alguma forma, estivesse exatamente onde deveria estar.

— Tá, Dom Bosco. E depois? O que eu faço depois disso?

— Depois, você começa a construir uma nova vida. — João Bosco falou com entusiasmo. — Busque amizades verdadeiras, Matheus. Procure pessoas que te ajudem a crescer, que te inspirem a ser melhor. Fuja do que te puxa para baixo. E, acima de tudo, não perca a conexão com Deus. Ele será sua força em cada dificuldade.

Matheus olhou para João Bosco, e, pela primeira vez, seus olhos estavam cheios de gratidão.

— Obrigado, Dom Bosco. Eu acho que... eu precisava disso.

João Bosco sorriu, satisfeito, mas humilde.

— Não me agradeça, Matheus. Agradeça a Deus. Ele foi quem nos trouxe até aqui.

Os dois levantaram-se do banco, e João Bosco estendeu a mão para Matheus, como quem oferece apoio em uma subida íngreme.

— Vamos, Matheus. Sua jornada começa agora.

Matheus apertou a mão de João Bosco, sentindo um novo tipo de força crescer dentro de si. Ele ainda não tinha todas as respostas, e o caminho à frente parecia longo e incerto. Mas, pela primeira vez, ele acreditava que não precisaria enfrentá-lo sozinho.

Enquanto os dois caminhavam juntos pela praça, uma sensação de propósito começava a tomar conta de Matheus. Ele sabia que a mudança não seria fácil, mas também sabia que, com Deus ao seu lado, havia esperança.

A escuridão que antes parecia sufocante agora dava lugar a uma luz suave, que iluminava seus primeiros passos em direção a uma vida nova, cheia de sentido e propósito. A jornada não terminava ali; ela apenas começava.



Capítulo 9: Epílogo: A Luz no Caminho

Os anos haviam passado como uma suave brisa, mas a mudança que Matheus experimentou ainda estava viva dentro dele. Ele estava agora sentado na mesma praça onde tudo começou, um lugar que, ao longo do tempo, se transformou de um cenário de desesperança em um símbolo de renovação. O jovem que, algum tempo atrás, se sentia perdido e sem direção, agora olhava para o futuro com uma serenidade que parecia vir de um lugar profundo, um lugar de paz verdadeira.

O tempo, é claro, não havia apagado todas as dificuldades. Mas a maneira como ele agora encarava a vida era completamente diferente. Matheus sabia que, ao longo dos anos, ele ainda enfrentaria desafios. Haveria momentos de dúvida, momentos de fraqueza. Mas ele também sabia que não estava mais sozinho, que a jornada de fé e confiança em Deus não era mais algo teórico ou distante. Era algo vivenciado no dia a dia, sustentado pelas escolhas que fazia e pelas pessoas que Deus colocava em seu caminho.

Ele se lembrou da primeira conversa com João Bosco, aquele homem sereno e acolhedor, que havia chegado em sua vida de forma inesperada, mas que, de alguma maneira, já estava ali o tempo todo, esperando para ser ouvido.

— Como será a minha vida agora? — Matheus se perguntara naquela noite, cheio de dúvidas. Mas hoje ele sabia a resposta.

Ele olhou para o horizonte, onde o sol começava a se pôr, tingindo o céu de cores quentes e suaves. Como se, ali, naquele momento, a própria criação estivesse celebrando com ele a paz que finalmente encontrou. O peso de anos de revolta e raiva não mais o carregava. Ele havia dado os passos certos, com a ajuda de Deus, e agora, cada dia era um convite à liberdade, à verdade e ao amor.

A vida havia se tornado um caminho de confiança e de fé, e ele sabia que João Bosco havia sido, mais do que um guia, um verdadeiro amigo. Alguém que o havia ensinado a olhar além das dificuldades, a enxergar a presença de Deus em todas as coisas, mesmo nas mais simples. João Bosco não era apenas um nome distante da história da Igreja. Ele se tornara uma presença viva na vida de Matheus, um amigo fiel que o acompanhava e o orientava, com a mesma paciência e alegria com que havia feito no início de sua jornada.

— Não foi fácil, mas valeu a pena — Matheus murmurou para si mesmo, lembrando-se das palavras de João Bosco, sempre cheias de esperança e fé.

Ele agora participava ativamente da vida da Igreja, com a certeza de que cada momento de oração, cada missa, cada gesto de amor ao próximo o aproximava mais de Deus. Matheus se envolvera com jovens como ele, buscando ser, para outros, o que João Bosco fora para ele: uma luz, um apoio, um amigo.

A confissão, que no começo parecia um peso, agora era para ele uma libertação. A Eucaristia, antes algo distante e incompreensível, se tornara a fonte de sua força. Ele já não via Deus como um conceito distante, mas como um amigo íntimo, que o amava incondicionalmente e o guiava a cada passo.

Matheus fechou os olhos por um momento, agradecendo a Deus. Ele sabia que não merecia toda a graça que recebia, mas entendia agora que a misericórdia de Deus era infinita, e Ele jamais o abandonaria.

Foi então que ele sentiu uma leve brisa acariciar seu rosto, e em sua mente, uma lembrança doce surgiu: a imagem de João Bosco, com seu sorriso acolhedor e suas palavras tranquilizadoras. Era como se ele estivesse ali, naquele instante, de novo, oferecendo apoio e carinho, como sempre fizera.

Matheus abriu os olhos e sorriu.

— Obrigado, Dom Bosco. — Ele disse, como se estivesse falando diretamente com o amigo que havia sido, de fato, uma luz no caminho de sua vida.

E, naquele momento, ele soube que a jornada ainda estava longe de terminar. Mas, com a ajuda de Deus, com a força que a fé proporcionava e com os exemplos daqueles que o haviam inspirado — especialmente João Bosco — Matheus sabia que estava pronto para enfrentar qualquer coisa que a vida lhe reservasse. Porque ele não caminhava mais no escuro. Ele caminhava na luz de Cristo, guiado por um amigo que sempre estaria ao seu lado.

E assim, com um coração cheio de gratidão, Matheus se levantou, pronto para dar mais um passo na jornada que agora fazia sentido, uma jornada de fé, amor e esperança. A luz estava com ele, e ele sabia que, com ela, nada seria impossível.

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