O Pentecostes: Línguas de Fogo e Corações Ardentes




O Espírito sopra onde quer... mas ensina onde há ouvidos


🎬 Introdução

No coração de uma antiga biblioteca, onde colunas românicas sustentam a cúpula celeste da razão e da fé, uma mesa redonda reúne figuras ilustres de diversas épocas e crenças. Velhos adversários e novos curiosos se encontram diante de um tema central para o cristianismo: o Pentecostes.

A conversa é conduzida por ninguém menos que Santo Agostinho de Hipona, o leão do Ocidente, doutor da graça. Ao redor da mesa, encontram-se:

  • Voltaire, o filósofo agudo e incrédulo,

  • Karl Barth, teólogo reformado de peso,

  • Albert Einstein, o gênio curioso e honesto,

  • Rabbi Akiva, símbolo da tradição hebraica,

  • Blaise Pascal, matemático, filósofo e cristão apaixonado,

  • E uma jovial Santa Teresa de Lisieux, que ouve e sorri, oferecendo provocações espirituais inesperadas.

A questão surge logo no início:
"O que foi Pentecostes? Um mito, um delírio coletivo, ou a inauguração viva de algo eterno?"

Com sua pena de ouro e coração inflamado, Santo Agostinho toma a palavra, e o fogo desce — não em línguas, mas em argumentos.


📜 Sumário dos Capítulos

Capítulo 1 – Como um vento impetuoso

Agostinho narra os acontecimentos de Atos 2: o cenáculo, os 120 discípulos, o derramar do Espírito. Voltaire intervém: “Vento? Fogo? Isso soa mais a mitologia do que a história.” A resposta do Doutor é bíblica e lógica.

Capítulo 2 – O Cenáculo e o Sinai

Rabbi Akiva traça paralelos entre Pentecostes e o Sinai. Agostinho amplia: “O que era Lei gravada em pedra, agora é amor gravado no coração.” Karl Barth analisa a teologia do evento. Santa Teresa sussurra: “Foi ali que nascemos.”

Capítulo 3 – Línguas e Entendimento

Einstein questiona: “Mas como todos entenderam em suas línguas? Um campo de interferência?” Agostinho responde com teologia e uma pitada de física espiritual. Pascal entra com o coração: “O milagre maior não foi a língua, mas a escuta.”

Capítulo 4 – A Igreja em Missão

Todos questionam: “Mas o que mudou na prática?” Agostinho mostra a transformação dos apóstolos e o início da pregação apostólica. Karl Barth fala da missão da Palavra. Voltaire: “Eles pareciam bêbados.” Agostinho: “Sim, embriagados de céu.”

Capítulo 5 – Pentecostes: Patrimônio Católico e Cristão

Discussão sobre o valor de Pentecostes para católicos e protestantes. Agostinho fala da Confirmação, do Magistério, da tradição viva. Barth lembra do “Sola Spiritu Sancto”. O Espírito, diz Agostinho, “não divide — envia”.

Capítulo 6 – Pentecostes Hoje?

Einstein: “Ainda acontece?” Agostinho cita os santos e místicos. Teresa conta seu “pequeno Pentecostes”. Voltaire, tocado, admite: “Se isso for fogo, queime-me com ele.”

Epílogo – Quando o Fogo Não se Apaga

Todos, em silêncio, ouvem Agostinho rezar:

“Veni, Sancte Spiritus... Veni per Mariam.”



🕊️ Capítulo 1 – Como um vento impetuoso

O ambiente estava calmo, perfumado com o aroma de velhos livros e cera de velas. A luz atravessava os vitrais, lançando cores vivas sobre a mesa redonda onde os luminares da fé e da razão estavam reunidos. Todos olhavam para o homem de veste simples e olhar profundo, que se levantava com a solenidade de quem estava prestes a narrar não um fato, mas uma epifania.

✨ Santo Agostinho:

Caríssimos, permiti que eu conte como o céu beijou a terra…
Foi no quinquagésimo dia após a Páscoa, em Jerusalém. Não foi por acaso, mas em cumprimento perfeito da antiga festa judaica de Shavuot, que celebrava a entrega da Lei no Sinai. Agora, o Espírito da Lei Viva descia — não mais em tábuas de pedra, mas nos corações.

Ali, no cenáculo, estavam reunidos os doze apóstolos, Maria, a Mãe do Senhor, e cerca de 120 discípulos (Atos 1,15). Eles perseveravam em oração. Esperavam... o que nem sabiam nomear.

De repente, como diz Lucas, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa. Línguas de fogo desceram sobre eles, e todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas (Atos 2,1-4).

⚡Voltaire (arqueando a sobrancelha):

Meu caro bispo de Hipona, com todo respeito à sua eloquência, mas... vento? fogo? línguas que falam? Isto cheira mais a literatura oriental ou misticismo do deserto do que a um evento histórico. Devemos mesmo acreditar que isso ocorreu literalmente?

Agostinho sorriu, como quem saboreia um vinho forte antes de responder.

🧠 Santo Agostinho:

— Ah, Voltaire… sempre a confundir o simbólico com o fictício, e o milagroso com o mitológico. Dizei-me: se a criação do mundo pode ser narrada com poesia (“Fiat lux!”), por que não a nova criação também viria com sinais celestes?

Primeiro: não se trata de um evento isolado, mas confirmado por testemunhas múltiplas — não só os que receberam, mas também os judeus devotos de todas as nações (Atos 2,5-13), que ouviram a proclamação “cada um em sua própria língua”.

Segundo: o Espírito que ali desceu transformou homens covardes em mártires, pescadores em proclamadores, discípulos amedrontados em colunas da Igreja. Não é esse o selo mais convincente?

🔥 Voltaire:

— Mas não poderia ser histeria coletiva? Como os que vêem visões em santuários?

🪔 Agostinho (com olhar sereno):

— Se histeria é capaz de converter o Império Romano, sustentar perseguições, gerar santos, mártires, igrejas e universidades, então precisamos redefinir a palavra "histeria".

E ainda mais: por que a mesma transformação moral e espiritual se repete, século após século, nos que invocam o mesmo Espírito? O Pentecostes não foi apenas um evento — foi o início de uma nova condição da humanidade.

Ali, nasceu o Corpo místico de Cristo, a Igreja peregrina, em missão, cheia do Espírito que guia, consola, santifica e ensina.

💬 Santa Teresa de Lisieux (do canto da mesa, sorrindo):

— E eu, pobre florzinha, também o recebi. No silêncio do meu Carmelo, o mesmo Espírito soprava. Pentecostes… não é um eco do passado, mas um sopro de agora.

Todos ficaram em silêncio por um momento. Voltaire olhava fixamente para a chama de uma vela.

🕯️ Voltaire (num tom mais suave):

— Se isso é verdade, então não foi apenas fogo que desceu… mas uma alma para o mundo.

Agostinho assentiu com ternura.

— Sim, Voltaire. Et Verbum caro factum est, e o Espírito… flamma amoris accendit corda nostra.



✨ Capítulo 2 – O Cenáculo e o Sinai

O cenáculo, agora recriado na imaginação e no discurso, pairava como um ícone no centro da conversa. Mapas abertos, rolos da Torá e códices cristãos antigos estavam sobre a mesa. No fundo, o som suave de um shofar gravado em vinil preenchia o ambiente com solenidade.

Rabbi Akiva, envolto em seu talit, erguia os olhos com reverência.

🕎 Rabbi Akiva:

— Vós chamais Pentecostes, nós chamamos Shavuot. E o tempo coincide, não por acaso. Foi no monte Sinai que o Eterno desceu em fogo, relâmpagos e som de trombetas (Êxodo 19), para dar a Lei a Moisés. E agora, no monte de Sião, diz-se que Deus desce de novo — não mais para dar a Lei, mas o Espírito?

Ele olha para Agostinho, com uma pitada de provocação amigável:

— Então dize-me, Agostinho: foi o Sinai substituído?

Agostinho, com um leve sorriso, repousa os dedos sobre um manuscrito de Atos 2 e a carta aos Hebreus.

🧠 Santo Agostinho:

— Jamais! O Sinai foi cumprido, não apagado. O que era sombra e figura, tornou-se luz e substância. O mesmo Deus que falou a Moisés gravou a Lei em pedra. Mas agora, como dissera pelos profetas (Jeremias 31,33), Ele escreve nas tábuas do coração.

— No Sinai, Ele falou de fora para dentro, agora fala de dentro para fora. Pentecostes é o Sinai em plenitude — não com o temor da Lei, mas com a chama do Amor.

Akiva abaixa os olhos, pensativo. O eco de uma tradição viva o comove.

📚 Karl Barth (ajustando os óculos):

— Se me permitem, a conexão é teológica, e brilhante. A Lei sem o Espírito é fardo. O Espírito sem a verdade da Lei é desordem. No Pentecostes, temos a união das duas coisas: a Palavra e o Soprar, o Logos e o Pneuma.

Ele faz uma pausa, e então acrescenta:

— A diferença entre o Sinai e o Cenáculo não está em Deus, mas em nós. No Sinai, o povo recuava de medo. No Cenáculo, eles se abrem em fé. Isso só é possível porque Cristo reconciliou o trono e o coração humano.

Agostinho ergue os olhos, contente. Ele fala como quem encontra eco nos séculos:

🧠 Agostinho:

— Sim! O Logos Eterno, que se fez carne, agora se faz presente em nós por meio do Espírito. Como escreveu Paulo: "A letra mata, mas o Espírito vivifica." (2 Cor 3,6)

E não há contradição entre a letra e o Espírito — há hierarquia. A letra é o vaso. O Espírito é o vinho.

Todos permanecem em silêncio por um instante. Então, de um canto, com delicadeza de orvalho, ouve-se a doce voz de Santa Teresa de Lisieux:

🌹 Santa Teresa:

— Foi ali… foi ali que nascemos.
Naquele dia, a Mãe Igreja deu seu primeiro suspiro. Com Maria, nossa Mãe, ali também. Não foi barulho, foi parto.

🔥 Rabbi Akiva (com respeito):

— E vossa Maria… estava presente?

🧠 Agostinho:

— Sim. Como Eva estava com Adão no início da criação, Maria estava com o Novo Adão no início da nova criação. Ela é o Cenáculo em carne: cheia do Espírito, silenciosa, disponível, plena de Deus.

Rabbi Akiva murmura um "Baruch Hashem" — bendito seja o Nome.

Barth cruza os braços e diz, com reverência:

— Então Pentecostes… é o batismo de fogo da Igreja.

Agostinho conclui:

— Sim. E como o fogo que queimava na sarça e não a consumia, esse fogo também não destrói — purifica, ilumina, transforma.



🌍 Capítulo 3 – Línguas e Entendimento

A cena abre com o som de muitas vozes — como um eco de Jerusalém naquele dia em que, conforme Atos 2, pessoas de todas as nações ouviram, maravilhadas: “Como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?”

Na mesa, diagramas, papiros e um velho globo girando lentamente.

⚛️ Albert Einstein

(de pé, ajustando o paletó de tweed, olhar curioso e sobrancelho arqueada)

— Então vejamos se entendi… Um grupo de galileus iletrados começa a falar, e subitamente partos, medos, elamitas, egípcios, cretenses e árabes ouvem cada um em sua língua? — Ele sorri. — Isso me cheira mais a interferência quântica do que a eloquência sobrenatural.

Ele pega um giz e rabisca um campo de ondas num quadro negro.

— Em física, chamaríamos isso de ressonância específica. Algo como uma frequência que se ajusta automaticamente ao receptor. Mas confesso, mesmo para mim, soa… improvável.

🧠 Santo Agostinho

(com seu tom sereno e inconfundível)

— E ainda assim, Albert, a improbabilidade é justamente a assinatura da intervenção divina.

Ele se aproxima do quadro de Einstein e aponta:

— Veja, caro físico. A confusão das línguas em Babel (Gênesis 11) foi castigo pela soberba. No Pentecostes, a multiplicidade foi superada não por uma nova língua comum, mas pela compreensão mútua no Espírito.

Ele faz uma pausa e abre a Bíblia:

“E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.” (Atos 2,4)

⚛️ Einstein (coçando a barba):

— Então foi um "campo espiritual unificado"?

🧠 Agostinho (sorrindo):

— Se quiser chamar de campo, chame. Eu chamo de Graça. Ela age como luz: invisível, mas manifesta tudo o que é verdadeiro. E, como a luz, não precisa ser compreendida para ser eficaz.

Einstein parece intrigado.

De repente, uma nova voz, calma, penetrante, fala do canto da sala. É Blaise Pascal, matemático, físico, filósofo — e místico.

❤️ Blaise Pascal:

— Senhores, permitam-me um acréscimo.
O milagre maior não foi a língua. Foi a escuta.

— Muitos podem falar línguas e não dizer nada. Mas ali, o coração de cada ouvinte foi tocado, como se a palavra fosse dita só para ele. Não foi gramática, foi graça.

Ele se levanta, olha para Agostinho e diz:

— Como tu bem disseste, "Ama e faze o que quiseres". Pois quem ama, escuta. E quem escuta, entende — mesmo em silêncio.

Agostinho assente com um brilho nos olhos.

🧠 Agostinho:

— As línguas foram sinal, sim. Mas a comunhão foi o fruto. A Igreja nasce não da confusão de Babel, mas da harmonia do Espírito. Em Babel, buscavam fama própria. No Pentecostes, buscaram a glória de Deus. O resultado? Unidade na diversidade.

Einstein cruza os braços, e pela primeira vez sorri de forma mais suave:

⚛️ Einstein:

— Então não era interferência… era consonância.
Talvez... o universo não seja apenas matéria em movimento, mas Palavra em ressonância.

❤️ Pascal (com um leve sussurro):

O coração tem razões que a razão desconhece.



✝️ Capítulo 4 – A Igreja em Missão

A sala agora se abre como uma praça. Murais projetam Jerusalém em festa, repleta de peregrinos. Do cenáculo ao caos controlado das ruas, os ecos do Espírito ainda ressoam.

🔥 Agostinho (de pé, com voz vibrante e mãos elevadas)

— Meus amigos, antes do Pentecostes, os apóstolos estavam trancados. Depois, estavam nas ruas. Antes, eram discípulos temerosos; agora, são testemunhas audazes.

Ele aponta para o texto aberto em Atos 2:

— Pedro, o mesmo que negara Cristo três vezes por medo de uma criada, agora ergue-se diante da multidão e proclama: “Este Jesus, que vós crucificastes, Deus o ressuscitou!”

Ele sorri com ternura:

— Isso, meus caros, não é mera emoção. Isso é metanoia, uma conversão alimentada pelo Fogo Divino. O que mudou na prática? Tudo.

📘 Karl Barth (recostado em uma poltrona, com olhos atentos)

— Sim, Agostinho. O evento do Pentecostes não foi uma experiência privada de êxtase. Foi a inauguração da missão pública da Palavra. A Igreja não nasce de uma reflexão filosófica ou de uma ética. Ela nasce de um acontecimento: a Palavra feita carne, ressuscitada, agora anunciada.

Verbum Dei, missum est in mundum — A Palavra de Deus foi enviada ao mundo. Pentecostes é quando essa Palavra se fez pregação viva.

🕶️ Voltaire (com ar cético, divertido)

— E mesmo assim, o povo disse: “Estão embriagados de vinho.”
Ora, parece-me que a teologia cristã sempre se esconde por trás de alegorias quando o absurdo aparece.

Ele ergue uma taça imaginária:

— Vento invisível, línguas flamejantes, homens falando aramaico e saindo em grego. Dizei-me, senhores… onde está a sobriedade?

🧠 Agostinho (com brilho nos olhos, responde com humor)

— Ah, Voltaire, meu caro provocador…

Ele se aproxima lentamente, como quem conta um segredo:

— De fato, estavam embriagados. Mas não de vinho. Estavam inebriados de céu. Como diz o salmista: “Meu cálice transborda.” (Salmo 23)

— O Espírito não embriaga como o vinho que entorpece, mas como o amor que inflama. O coração ardia — como o dos discípulos de Emaús — e então eles não puderam calar.

Voltaire cruza os braços, intrigado.

🫀 Barth (com convicção pastoral)

— Pentecostes é o fim do medo e o início da proclamação. A Igreja não é um clube espiritual, mas um corpo em missão. E a missão é clara: “Fazei discípulos de todas as nações.”

Ele aponta para Pedro no texto sagrado:

“Que faremos, irmãos?” — perguntaram.
E Pedro respondeu: “Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo.”

🔥 Agostinho:

— E três mil almas foram acrescentadas naquele dia.

Ele olha para todos ao redor:

— Isto não é mito. É história. História que transformou a história. E continua. Porque cada batismo, cada conversão, cada anúncio da Palavra é um eco daquele primeiro Pentecostes.

Um silêncio respeitoso cai sobre o grupo. Até Voltaire parece tocado.



✨ Capítulo 5 – Pentecostes: Patrimônio Católico e Cristão

A sala de debate está perfumada de incenso e encharcada de memória sagrada. O tema agora é nobre e urgente: se Pentecostes foi um só, como pode ser comum a tantos? Qual é o patrimônio que o Espírito Santo nos deixou — e como se guarda esse dom em tradições tão distintas?

Ao centro, Agostinho levanta-se com um rolo antigo nas mãos — não apenas para ler, mas para lembrar.


🕊️ Santo Agostinho (sereno, com voz que mistura fogo e paz)

— Meus irmãos, se Pentecostes é o nascimento da Igreja, então sua herança deve ser cuidada com reverência. Ele não foi um espetáculo isolado, mas o início de uma missão que permanece até hoje.

Ele caminha com passos lentos:

— No batismo, recebemos o Espírito. Mas é na Confirmação, o antigo crisma, que somos fortalecidos para a missão. Como diz a Igreja: "O Espírito que desceu em línguas de fogo sobre os apóstolos, agora unge os cristãos com coragem apostólica."

Ele ergue os olhos:

— O Espírito não nos faz saltar de uma doutrina a outra. Ele guia à Verdade — e a Verdade não muda como o vento.


📘 Karl Barth (cruzando as mãos, pensativo)

— Sim, Santo Agostinho. Mas na tradição reformada, confiamos que é o próprio Espírito — e só Ele — quem conduz à Palavra e pela Palavra. Sola Scriptura, Sola Fide… mas também: Sola Spiritu Sancto.

— O Espírito sopra onde quer (Jo 3,8), e sua ação não está presa a estruturas visíveis. A Palavra de Deus, quando proclamada com fidelidade, é veículo do Espírito.

Agostinho sorri, mas com a serenidade de quem já ouviu isso antes — e tem uma resposta na ponta da língua.


🧠 Agostinho (com o dedo erguido, em tom respeitoso)

— Sopra onde quer, sim… mas não o que quiser. O Espírito não se contradiz. Ele não gera mil verdades concorrentes. Como diz São Paulo: “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4,5).

— A Igreja guarda esse Espírito no Magistério e na Tradição viva, como uma mãe que cuida da chama da vela para que não se apague ao vento do tempo.

Ele olha nos olhos de Barth, com carinho fraterno:

— O mesmo Espírito que inspirou os profetas, guiou os apóstolos, e hoje guarda a Igreja do erro. Ele não divide — envia.


📖 Santa Teresa de Ávila (com voz suave, intercedendo como quem canta)

— “Não é por muito pensar que se ama muito, mas por muito amar.” O Espírito não veio primeiro para organizar, mas para inflamar.

Ela coloca a mão sobre o peito:

— E uma alma inflamada pela verdade não se perde em caprichos, mas se entrega como lenha ao fogo do Alto.


🧠 Barth (admirado)

— Então o Pentecostes não foi só um momento, mas uma forma de existir? Uma Igreja sempre enviada, sempre inflamada, sempre conduzida?


🕊️ Agostinho (com leve sorriso)

— Sim, Karl. Pentecostes não acabou. Ele atravessa os séculos.
Na oração do Crisma, a Igreja diz: “Confirmai, Senhor, com o Espírito da fortaleza, aqueles que foram regenerados no batismo.”

— É assim que se reconhece uma fé viva: não só na emoção, mas na fidelidade. E o Espírito Santo, meu amigo, ama a fidelidade.


🔔 Conclusão do Capítulo

Todos se calam por um instante. O Espírito é lembrado não como um visitante, mas como o habitante da Igreja — a alma invisível do Corpo visível.
Católicos e protestantes veem Pentecostes como um marco essencial. Mas a pergunta de Agostinho ecoa:

“Se o Espírito não divide, por que tantos caminhos que não se encontram?”



🔥 Capítulo 6 – Pentecostes Hoje?

A sala está em silêncio, mas não um silêncio vazio — é o silêncio que antecede o vento. Os grandes nomes do pensamento humano, da fé e da razão, agora contemplam uma pergunta essencial, lançada por um cientista cuja mente alcançou as estrelas:


🧠 Einstein (com a testa levemente franzida, intrigado)

— Mas digam-me... isso ainda acontece?
O que houve no Cenáculo — aquele vento, aquelas línguas, aquela chama interior — pode ainda ocorrer no mundo de hoje? Ou ficou apenas no registro da história sagrada?

Ele olha para Agostinho como quem desafia, mas também deseja.


🕊️ Santo Agostinho (inclinando-se levemente para frente)

— Meu caro Albert, o Pentecostes de Atos 2 foi singular em forma, mas não em essência.
O Espírito continua a descer — não sempre com línguas visíveis de fogo, mas com um fogo que consome o orgulho e acende o amor.

Ele faz uma pausa e cita:

“Vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo” (Ez 36,26).
Onde há conversão sincera, caridade ardente, verdade proclamada com coragem — ali, há Pentecostes.


🌹 Santa Teresa de Ávila (com um brilho nos olhos, como quem revive algo)

— Houve uma noite em que, ao rezar sozinha, senti o mundo se calar... e então, Ele veio.
Não com vento, mas com perfume.
Não com línguas, mas com luz.
Não com som, mas com certeza.

— Meu coração foi inflado de amor tão forte que chorei como criança. Eu o chamo de “meu pequeno Pentecostes”.

Ela olha para Einstein e sorri:

— A física pode descrever o calor. Mas este fogo... só o amor entende.


🔥 Voltaire (arqueando as sobrancelhas, surpreso, mas sincero)

— Se isso for fogo, queime-me com ele.

Todos se voltam. O filósofo do ceticismo, da razão afiada como lâmina, agora fala sem ironia.

— Admito, nunca vi nada mais potente que um homem transformado por dentro.
Nem meus argumentos, nem minhas sátiras mudaram vidas como esses... santos inflamados.

Ele suspira:

— Talvez eu tenha combatido a fumaça... sem perceber o calor verdadeiro.


🕊️ Agostinho (com humildade e ternura)

— Voltaire, meu irmão... o Espírito não teme as perguntas.
Ele só espera o momento certo para soprar.
Pentecostes hoje? Sim.
Quando um coração se rende, quando uma alma se entrega, quando a verdade é amada com coragem... o Cenáculo se repete.

Ele olha ao redor:

— Nos mártires da fé. Nos missionários silenciosos. Nos confessionários. Nos altares. Nos corações puros.
O Espírito não aposentou seu fogo.


✨ Conclusão do Capítulo

Einstein fecha os olhos. Teresa murmura um “Glória”. Voltaire baixa a cabeça.
Agostinho termina com uma frase simples, mas eterna:

“Pentecostes não é lembrança.
É presença.”



✨ Epílogo – Quando o Fogo Não se Apaga

A luz na sala já é outra. O debate cessou. As perguntas foram como lenha — secas, afiadas, necessárias. Mas agora, o fogo arde de modo suave, interior.
O ambiente é como o próprio Cenáculo: íntimo, elevado, profundamente humano e divino.


🔥 Todos em Silêncio

Einstein cruza as mãos, como quem está aprendendo uma nova linguagem — a do espírito.
Voltaire, antes tão cético, já não pergunta. Ele contempla.
Karl Barth sorri, reconhecendo o mistério que nenhuma teologia pode encerrar.
Santa Teresa permanece em silêncio, os olhos brilhando como quem vê o invisível.

No centro, Santo Agostinho se ergue.


🕊️ Agostinho (com voz grave, mas terna)

— Há um fogo que não se apaga.
Ele começou em um Cenáculo, mas nunca mais cessou.
Percorreu desertos, cruzou impérios, resistiu a heresias, guerras, dúvidas e até escândalos.

Ele olha para todos com os olhos do pastor que ama cada ovelha — até as dispersas.

— Esse fogo é o Espírito Santo.
E quando Ele vem... ah, quando Ele vem!
O medo se dissolve, a verdade se impõe, o amor canta, e a Igreja respira.

Ele fecha os olhos. E então, com humildade e ternura — como quem já não fala apenas por si — ele começa a orar:


“Veni, Sancte Spiritus...”
(Vem, Espírito Santo...)

“Veni per Mariam.”
(Vem por Maria.)


💫 A Oração Ganha Voz

Teresa, suavemente, une-se.
Depois Barth, com reverência.
Einstein permanece em silêncio, mas seus olhos estão marejados.
Voltaire... murmura em latim, surpreendendo até a si mesmo.

A oração se espalha como brasa em palha seca.
Não há rótulos, não há trincheiras. Só um fogo. Só uma súplica.
Só um Corpo — ainda ferido, sim, mas sedento de unidade.


✝️ Última Imagem

No centro da sala, uma cruz simples.
E atrás dela, um vitral redondo — o Espírito Santo em forma de pomba, irradiando luz.
Nas bordas, pequenos símbolos de cada tradição ali representada, como partes de um mosaico maior.

E ao pé da cruz, em letras douradas:

Ut Unum Sint.
Para que todos sejam um. — João 17,21


FIM

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